Na maior parte dos casos que chegam a psicoterapia as pessoas buscam ajuda para resolver seus problemas. Isso é um fato.
Vivemos em uma sociedade que ressalta praticidade e somos quase que ‘regidos’ pela máxima “tempo é dinheiro”. Esse contexto faz com que a gente viva resolvendo diferentes problemas, fazendo com que nossas questões existenciais sejam somadas as pilhas de problemas, sem darmos muita importância ou urgência.
Os psicólogos costumam ser acionados quando as pessoas já esgotaram seus recursos para tentar ‘solucionar’ o problema, mas essa ajuda que podemos oferecer não percorre um caminho linear.
Isto porque somos sujeitos integrados e um problema aparentemente isolado costuma ter ligações (que nem imaginamos!) com outras áreas de nossas vidas. Ou seja, é importante ter um olhar para toda a existência do sujeito e não só para o problema isoladamente.
Os problemas, na realidade, costumam ser mensageiros que nos alertam de que algo está errado.
Deste modo, é necessário que a gente possa criar uma espécie de diálogo, ouvindo o que o problema tem a nos dizer.
Citarei alguns exemplos que neste momento me vêm a mente:
Problema: Família traz o filho a psicoterapia pois estão recebendo muitas reclamações de comportamentos agressivos e de insubordinação na escola.
– Embora a criança assimile bem o conteúdo escolar e tenha boas notas, sente-se pouco compreendida em casa e gostaria de ter mais atenção dos pais.
Problema: Advogada bem sucedida sente-se insegura e ansiosa em seu trabalho.
– Ainda que possuísse uma carreira sólida e fosse muito eficiente em suas atividades, a mulher havia deixado de lado seu sonho de ser atriz, tentando suprir a grande expectativa de seus pais que desejavam que ela escolhesse advocacia como sua profissão.
Seria possível passar dias a fio listando situações parecidas, umas em que que é possível perceber uma relação, outras nas quais somente com um profundo trabalho de autoconhecimento seria possível ter acesso e correlacioná-las.
Ressalto que com os exemplos que citei não busco explicitar uma relação causa-efeito, mas sim evidenciar que nossas ações, nossos momentos de vida, a pessoa que somos nos diferentes lugares e papeis que ocupamos, nossa vida de forma integral, estão interligados.
Conforme os exemplos que citei, se os atendimentos psicoterapêuticos e o olhar de ‘cuidado’ fossem voltados somente aos problemas apresentados fosse possível que as reclamações da criança cessassem e a mulher conseguisse sentir-se mais segura no trabalho, mas talvez não fosse possível, perceber junto a família a necessidade dos pais reverem sua relação com o filho ou a mulher repensar sua carreira.
Portanto, reconhecendo que a solução se apresenta através de um olhar a respeito de como nos relacionamos, não só com o problema, mas com o mundo, faço um convite.
Meu convite é que a gente possa sair desse fluxo, quase que incessante, de resolução e praticidade e que a gente possa, então, apreciar e dialogar com o problema.
Deixo, ainda, uma pequena provocação: O que os seus problemas têm dito sobre sua existência?