Por July Mairinck
O ato de bater em uma criança ou adolescente como meio educativo é algo que sempre me atravessou. Eu posso dizer que não fui uma criança que apanhei, mas mesmo pequena eu me questionava se isso fazia algum sentido. Minha cabecinha infantil quando estava assistindo filmes de briga, e sabendo que os inimigos se detestavam, ficava tentando entender o motivo da frase “estou te batendo pelo seu bem”, dita por pais de colegas ou primos e presenciada por mim. Os pais detestavam os filhos, ou na verdade os inimigos do filme estavam fazendo aquilo pelo bem um do outro? Parece bobo, mas a lógica parece ser essa.
Justificar uma violência física (ou qualquer tipo de violência, mas vamos focar na física) como sendo um meio do responsável “consertar” um comportamento ruim da criança, é no mínimo contraditório. Vou dar um exemplo: Certa vez eu estava em uma das consultas de devolução de um paciente do SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) da universidade em que estudo, e por ele ser menor de idade (na época, 11 anos) os pais o acompanhavam. O pai, que até então falava bem menos que a mãe, quando confrontado sobre como lidava com o filho, contou que seu filho tinha “mania de bater” e que ele achava inadmissível o menino bater nele. Então questionei o que ele costumava fazer quando isso acontecia, e ele, todo orgulhoso, respondeu: “Mas é claro que eu dou uns tapas nele, né?”. O que exatamente se está ensinando para a criança que está tendo o hábito de bater, repetindo exatamente a mesma coisa? Eu tenho um palpite: Violência sendo resolvida com violência.
Acredito que esse tema seja tão importante que o escolhi para meu trabalho de conclusão de curso. Então venho pesquisando com adultos que apanharam quando eram crianças, como isso refletiu na sua vida depois de crescidos. Eu tenho algumas hipóteses, baseadas na literatura e experiências pessoais.
A primeira de todas é o clássico “Violência gera violência”. E isso podemos ver em qualquer lugar. Agredir acaba sendo o meio mais rápido de se resolver a situação. Brigas de trânsito, de torcida, de bar. Tudo começa por pequenas besteiras e podem tomar grandes proporções.
A criança aprende quando apanha que a violência é hierárquica. Seus pais são mais velhos, donos da casa, pagam suas contas, fisicamente maiores, logo, detém o poder. Não é muito incomum observar que os filhos mais novos apanham dos mais velhos, porque a hierarquia funciona desse jeito. Menos incomum ainda é ver algumas dessas crianças no futuro reproduzindo essa atitude. Sendo agredindo seus filhos, suas esposas (ou maridos), ou qualquer outra pessoa. E assim segue o ciclo da violência.
A palmada, até mesmo aquele “tapinha”, é crime previsto pela Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014. Não encare como método educativo. Você pode estar contribuindo para que cada vez mais a nossa sociedade seja violenta. Converse, entenda que seu filho é um ser humano com desejos, frustrações, tristezas e alegrias igualzinho a você. Entenda a motivação daquela malcriação, birra. Será sono ou fome nos menores que falam pouco ou não falam ainda? Saudade dos pais? Vontade de brincar e socializar? Será uma repetição do que vê em casa? A forma que encontrou para verbalizar o que ele ainda não consegue? Se precisar, encontre ajuda de um psicopedagogo ou psicólogo da escola onde ele estuda. Procure se informar sobre atendimentos psicológicos gratuitos na sua cidade. Lembre-se, quando você bate não está doendo apenas no corpo.